Crise no YouTube: censura, vídeos ‘ad-friendly’ e a nova política de (des)monetização
A menos que você tenha vivido debaixo de uma pedra pelos últimos, provavelmente, 5-6 anos, você já deve ter percebido a insurgência dos YouTubers. Com audiências tão altas quanto de programas de televisão (aberta ou fechada), estes criadores de conteúdo são quem faz o YouTube ser o que é hoje – uma grande ameaça para a televisão e uma plataforma incrível para veicular anúncios, divulgar conteúdo próprio de uma marca ou simplesmente se entreter. Iremos falar neste texto sobre a crise no Youtube.
Este crescimento dos criadores de conteúdo para o site se deve a um programa parceiro, criado pela Google (empresa mãe do YouTube), que dá apoio financeiro (monetização) a quem produz vídeos para a plataforma. Em contrapartida, o YouTuber que optar por participar do programa, permite que seus vídeos sejam escolhidos para exibir anúncios. Antes, durante e/ou depois de sua visualização por um espectador do canal.
Você vai ler neste post
- Como funciona a monetização, ou seja, como ganhar dinheiro no Youtube?
- Como surgiu a crise na plataforma
- Quais os conteúdos elegíveis para receber anúncios?
- Definições de filtro atualizadas com sucesso…
- E a revolta foi surgindo…
- E conteúdo mentiroso, conta?
- É mais complexo do que parece
- E agora, os anúncios serão menos efetivos?
- E o tempo dirá…
Como funciona a monetização, ou seja, como ganhar dinheiro no Youtube?
De forma resumida, o processo é bastante benéfico para o criador de conteúdo, que tem seus vídeos expostos para seu público e pode garantir seu ganha-pão através de anúncios. E para o YouTube, que recebe conteúdo gratuitamente da sua comunidade e compartilha os lucros dos anúncios com ela. Também para os anunciantes, que podem alcançar novos públicos. E com um nível de especificidade de nichos e segmentos que apenas o Google poderia oferecer.
Como surgiu a crise na plataforma
Recentemente, enquanto tudo corria bem na vida dos YouTubers, a comunidade do site recebeu uma grande dose de controvérsia com a notícia de que vários canais da rede estavam tendo vídeos desmonetizados. Avisos começaram a pipocar nas caixas de entrada dos e-mails dos canais. Sinalizando que certos vídeos não estavam mais gerando lucros para o criador, por não se adequarem à norma de monetização do YouTube.
Com uma análise mais profunda, os YouTubers perceberam que alguns de seus vídeos já estavam bloqueados para anúncios há meses. Até mesmo anos. Chegando, em alguns casos, a terem sido bloqueados em 2012. Ou seja, prevenindo o criador do vídeo de receber dividendos pelo seu trabalho durante praticamente 4 anos.
Bem, você deve estar pensando: “ok, qual é o motivo da controvérsia? Os vídeos estavam fora da regra do YouTube”. É aí que as coisas ficam complicadas, nas tais regras de monetização.
Quais os conteúdos elegíveis para receber anúncios?
Há mais ou menos 1 ano, o site mudou suas condições quanto a quais tipos de vídeos são elegíveis para receber anúncios. Dentro das novas guidelines estavam as questões de sempre, conteúdo com conotação ofensiva, discriminação, instigar abuso de drogas e etc. Contudo, alguns itens incluídos e reinterpretados para a nova norma ficaram extremamente brandos e não exatamente explicitam o que é inapropriado.
Conteúdo sexualmente sugestivo, humor com referências sexuais, eventos relacionados a extremismo violento. Além do uso de palavrões, uso de drogas (o que é legalmente aceito em muitos países) e assuntos passíveis de controvérsia. Incluindo guerra, conflitos políticos, desastres naturais, tragédias e etc. Sem mencionar que está claramente mencionado que conteúdos inapropriados para monetização “incluem, MAS NÃO LIMITADO A”, sendo este “não limitado a” muito relevante e inespecífico.
Definições de filtro atualizadas com sucesso…
Unido a isso, o YouTube passou a utilizar um algorítimo que está filtrando com mais veemência os vídeos que continham estes assuntos e contextos brandamente abordados pela norma. Resultando na desmonetização de diversos vídeos, desde 2012. Ou seja, tudo isso sem o conhecimento dos criadores de conteúdo e anunciantes. A não ser que os YouTubers passassem um pente-fino em seu analytics para enxergar de perto a monetização de cada vídeo.
E a revolta foi surgindo…
Agora, em 2016, o site começou a alertar os canais sobre os vídeos desmonetizados. Gerando notificações em cima de notificações para diversos canais que perderam meses ou anos de lucros. A falta de cuidado com a comunidade e o aviso tardio revoltaram os YouTubers. Que, como era de se esperar, divulgaram as suas situações e dificuldades por meio de vídeos – chacoalhando a rede.
(Infelizmente a maior parte dos vídeos sobre o assunto é e inglês. Mas a ferramenta de legendas auto-traduzidas do YouTube faz um bom trabalho neles.)
Para entender melhor, você pode ler o texto da Internet Creators Guild sobre o assunto, artigo que foi citado nos vídeos acima (em inglês novamente, sorry)
Diversos canais e produtores de conteúdo acusaram o YouTube de censura e de omitir informações. Alguns levantaram uma discussão pertinente sobre como isso influencia o tipo de conteúdo publicado na rede. E faz com que os criadores de vídeos precisem moldar seus canais para continuarem elegíveis para anúncios. Por exemplo, canais jornalísticos ou que abordam notícias atuais, como política, conflitos internacionais e diversas outras situações com que convivemos no dia a dia (e que geram controvérsias) seriam impossibilitados de anunciar em seus conteúdos – basicamente ‘matando’ o canal ou o obrigando a mudar sua função, seu conteúdo.
E conteúdo mentiroso, conta?
Já outros YouTubers levantaram a questão de que a abordagem de assuntos delicados, como o da Coreia do Norte mostrada no exemplo acima. Com uma conotação positiva, promovendo o país de situação política e social complicada como destino turístico, é aceitável pelas normas do YouTube, por mais que o conteúdo em si não seja necessariamente uma representação da verdade. Colocando em termos simples, uma propaganda enganosa.
Novas dificuldades surgem
Nesta realidade, diversos criadores de conteúdo e a própria plataforma podem sofrer com mudanças drásticas de público e de conteúdo postado. O que resultará em novas dificuldades – se não, na migração de diversos produtores de vídeos para outras plataformas.
Embora tenha sido mostrado que canais grandes estão recebendo um tratamento bastante diferente, ou seja, sendo privilegiados e não sendo privados de anunciar em certos vídeos. Que, segundo as regras, deveriam ser bloqueados para isso. Além disso, alguns canais mostraram que, quando solicitada uma revisão do bloqueio, a qual é feita por pessoas reais e não um algorítmo, o bloqueio era desfeito, mostrando uma falha crítica na forma que o YouTube vem analisando automaticamente os vídeos. Sendo assim, canais pequenos e com poucos recursos, estão sofrendo muito mais e acabam fechando por este novo conjunto de normas e bloqueios).
É mais complexo do que parece
Já dá para perceber aqui que é uma situação extremamente complexa. Além disso, tem muito mais nuances, as quais não iremos discutir mais profundamente neste artigo.
Mas, o que queremos perguntar aqui e agora é, qual é o resultado de tudo isso para o anunciante?(quem você provavelmente atende e ajuda a anunciar em plataformas como o YouTube)?
Claramente, pode-se enxergar o viés do site para garantir uma vida melhor para os anunciantes. Buscando disponibilizar apenas vídeos “seguros” para as empresas que anunciam. Porém, será mesmo que esta forma de encarar o que é “seguro” para anunciar está certa?
E agora, os anúncios serão menos efetivos?
Pense com a gente, grandes canais brasileiros e com audiências que os anunciantes buscam poderão deixar de hospedar bons anúncios. Canais como o 5incominutos da Kéfera, Cauê Moura, Canal Canalha, Funkyblackcat e tantos outros com públicos específicos e muito relevantes para quem deseja anunciar. Isso pode gerar um grande problema de target. Pois, os anunciantes terão de se contentar com canais de menor especificidade de público. Portanto, fazendo com que a comunicação e o investimento sejam menos efetivos.
Além disso, hoje, em anúncios para mídias tradicionais, não se pensa muito nesta realidade. A televisão veicula anúncios de diversas marcas em meio a jornais repletos de tragédias e conteúdos controversos. Sem contar as novelas e filmes que também têm abordagens problemáticas. Ou seja, isso comprova que anunciar próximo a assuntos controversos não é algo que gera problemas com a audiência.
E o tempo dirá…
De forma resumida, a mudança no YouTube trouxe alguns problemas e só o tempo dirá se a comunidade irá se adaptar a novidade. Ou se o Google voltará atrás ou amenizará o processo. Claro, ninguém quer seu anúncio veiculado ao lado de um vídeo de terroristas praticando atos desumanos. Mas, ao lado de um vídeo de repúdio a este tipo de ação talvez. Contudo, o algorítimo do site não está sabendo interpretar esta diferença.
No momento, ainda há esperança. Mesmo com alguns vídeos inelegíveis, os canais ainda podem receber anúncios quando selecionados manualmente para exibí-los. Ou seja, você, como agência ou empresa que presta serviços de marketing e publicidade, pode direcionar sua campanha para um canal específico. E mesmo que ele possua alguns vídeos bloqueados para anúncios, outros conteúdos dele poderão exibí-los.
Dica extra
Outra boa tática é entrar em contato diretamente com o YouTuber e estabelecer uma parceria. Muitos deles são abertos para negociações e podem produzir conteúdos especificamente para a sua marca ou seu cliente. Ou até mesmo fazerem anúncios durante seus vídeos.
Estas duas estratégias podem encarecer um pouco os investimentos, mas são alternativas para ser assertivo com sua campanha ou publicidade. Enfim, a forma tradicional pode ser ainda mais cara. Agora que você pode ou não acertar seu público por ter vários vídeos bloqueados para a sua campanha.
- Por Editor em 08/09/2016
- Categoria: Setor Criativo