Porque seu brainstorm não funciona (por mais que você ache que sim)

ESCLARECIMENTO: Não me entenda mal, eu amo brainstorms, amo colaboratividade, todo mundo aqui na Operand também adora. É como alinhamos nossas ideias e combinamos poderosos insights para criar features, materiais e melhorias cada vez mais relevantes para todos vocês. Mas sei muito bem que um brainstorm mal planejado dá errado e gera um desperdício de tempo, aquele precioso bem que parece escorrer por entre nossos dedos quando temos milhares de tarefas para executar no dia a dia. Enfim, era só um breve esclarecimento para não parecer puro hate em uma das ferramentas mais legais de criatividade e colaboração. Vamos ao post para explicar “por que seu brainstorm não funciona” 😉


Vou explicar melhor…

Então, cá estou, digitando freneticamente em meu teclado sobre uma ideia que tive ontem. Você deve imaginar: “Okay, ele teve a ideia ontem, no trabalho, anotou em seu caderno e deixou para escrever hoje”. Isso acontece as vezes, não posso negar, mas não é o que geralmente acontece.

Essa ideia, “Porque seu brainstorm não funciona”, surgiu ontem, quando, em casa, depois de assistir uma breve maratona de 3 episódios (pff, maratona) de The Killing (aliás, recomendo!) e de tomar um rápido banho, às 2:30 da manhã enquanto tentava atravessar a barreira da minha insônia e dormir.

Mesmo planejando cada hora dos meus dias, levando em conta o comportamento do meu cérebro, as tarefas que tenho (profissionais e pessoais) e fazendo o máximo para que minha produtividade e criatividade se concentrem no horário de foco no trabalho, essa ideia surgiu quando surgiu – na cama, com/sem sono, de luzes apagadas, debaixo das cobertas e quase longe demais do celular para anotá-la.

Eu me perguntava (e ainda meu pergunto): “Por que essas ideias surgem em horas como essa?”. Já tive grandes ideias nos mais inusitados locais. Acredito que você também. Como debaixo do chuveiro, no carro enquanto dirigia, durante o passeio com meu cachorro ou ao praticar algum esporte.

Enfim, foram diversas as ocasiões onde, longe do trabalho, ideias interessantes surgiram. Francamente, ainda não consigo responder com propriedade o porque estas ideias aparecem repentinamente desse jeito. Mas, tudo isso me deu um grande insight sobre brainstorms. E é nisso que podemos melhorar sabendo dessa história toda sobre ideias.

Quando e como fazer um bom brainstorm

Brainstorms geralmente são convocados no começo de um job ou quando o time criativo está “empacado” em uma tarefa importante. Neste processo, o que se busca é um volume absurdo de ideias. Ou seja, independe se são boas ou ruins. O que é preciso é apenas seguir uma série de regras para “tornar o brainstorm produtivo”. Estas regras foram evoluindo ao longo dos anos, mas, basicamente, ainda retratam o que Alex Osborn, o criador da técnica brainstorming, indicou como base para utilizar essa ferramenta criativa. As regras são:

1. Busque quantidade: a maior preocupação é conseguir um alto número de ideias, independentemente de sua viabilidade.

2. Não julgue: para manter o volume de ideias e possibilitar que ideias não convencionais sejam sugeridas, não julgue as ideias e nem às critique. Apenas adição é permitida.

3. Esteja aberto para ideias malucas: abrace ideias não convencionais e possibilite novas perspectivas, evitando premissas.

4. Combine e evolua ideias: 1+1 deve ser igual a 3. Ou seja, sempre construa em cima das ideias concebidas.

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Brainstormings precisam ser bem planejados

À primeira vista, essas regras e toda a ideia de brainstorming é muito libertadora, tudo é livre e acolhedor. Embora isso seja positivo para fazer surgir centenas de novas ideias, o processo todo não leva em consideração diversas variáveis que vão diretamente contra a criatividade. Pior, contra a criatividade com pertinência.

Susan Cain, autora do livro “Quiet: the power of introverts in a world that can’t stop talking” (tradução livre: “Silêncio: o poder de introvertidos em um mundo que não consegue parar de falar”), discute que brainstorms e colaboração mal planejados podem matar a criatividade e a produtividade. Segundo ela, ideias realmente revolucionárias surgem a partir de um exercício de pensar profundamente e trabalhar sozinho.

Colaboratividade é a palavra-chave!

Claro que há espaço para colaboratividade. Mas, ela deve ser bem guiada e direcionada a pontos específicos do processo de criação (mais sobre isso depois).

Eu não creio que algo realmente revolucionário tenha sido criado por um comitê.
– Steve Wozniak. Co-fundador da Apple.

Steve Wozniak, co-fundador da Apple e parceiro de Steve Jobs, criou sozinho o primeiro computador da marca, um produto revolucionário para seu tempo. Segundo Wozniak, trabalhar sozinho é o que realmente faz a diferença na hora de criar algo com potencial de mudar o status quo.

Mas por que estes pensadores enxergam a colaboratividade e os brainstorms desta maneira? Como comprovar que este exercício pode ser negativo para a criatividade?

brainstorming

Pensar sozinho ou não?

Comecemos nossa análise através da visão sobre o coletivo. Quais são as diferenças entre pensar sozinho e fazer o mesmo em uma equipe? Certamente, sozinho, seu número e variedade de ideias é menor, porém, tudo é controlado por você.

Isso pode ser positivo. Uma vez que os parâmetros estão claros na sua mente e tudo é direcionado homogeneamente para alcançar o resultado almejado. Possivelmente, sua ideia terá uma construção muito mais sólida e fundamentalmente sustentada em comparação a uma ideia produzida em conjunto. Porém, estes não são os pontos principais. O que realmente impacta a criação na hora de colaborar em uma equipe é o fator social, o medo.

 

Liberdade é uma premissa de um bom brainstorm

Ao estar em uma equipe, dando ideias e tentando criar uma solução para um problema, as pessoas se preocupam em como serão interpretadas ao sugerir uma ideia. Há um medo de parecer “burro” ou sem capacidade ao lançar uma ideia não convencional.

Esse fenômeno é chamado “Apreensão de Avaliação”, isso faz com que você se censure antes mesmo de elaborar em cima da sua ideia e não importa o quanto a equipe for receptiva e siga as regras de um brainstorm sem julgamentos, isso sempre vai existir, é um instinto social do cérebro, está enraizado nas pessoas.

Liberdade = + ideias

Além de fazer com que as pessoas sugiram menos ideias e menos ideias originais, a Apreensão de Avaliação, faz com que os indivíduos comecem a alienar suas conclusões, criatividade e opiniões de acordo com o que a maioria diz.

Por mais que uma ideia seja revolucionária, pertinente, pura e simplesmente correta, se a maioria se expressar contra, possivelmente o autor da ideia irá abandoná-la para entrar em conformidade com o restante da equipe. Esse é o poder do medo e da questão social que criação em equipe gera.

Fatores que atrapalham

Existem dois outros fatores que agravam para a problemática dos brainstorms. A dispersão do foco e “as ideias que surgem às 2:30 da manhã, durante a insônia e quase longe demais do celular para anotá-las”.

Durante a criação em grupo, ao mesmo tempo que buscamos encontrar novas ideias e abrir espaço para a originalidade, nosso cérebro está inconscientemente processando uma infinidade de outros dados, apenas por estarmos rodeados de outras pessoas. Desde as expressões faciais das outras pessoas, os barulhos, as falas e suas ideias, a preocupação sobre como você irá soar quando sugerir aquela ideia “diferentona” – são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que você e seu cérebro focam cada vez menos no desenvolvimento de ideias originais.

Pensar sozinho é mais original?

Resumindo, ninguém tem o mesmo foco ao gerar ideias em equipe. Na verdade, estando sozinhos, as pessoas alcançam maiores níveis de atenção e conseguem buscar mais referências nas suas lembranças, o que resulta em trabalhos mais originais e pertinentes.

Além disso, ao fazer um brainstorm, você e sua equipe estão confinados em um escritório, mesa, espaço, em um lugar em que todos possam estar juntos simultaneamente. Por mais lindo e maravilhoso que seja este local, por mais inspirador, simplesmente não é assim que ideias surgem. Sim, trabalhar intensamente e despender horas e mais horas debruçados sobre uma mesa/computador/prancheta pode gerar grandes ideias.

Lugares diferentes fazem a diferença

Mas, em muitos casos (como o deste texto), as ideias se materializam em horas e lugares inusitados. O fator de deslocamento da sua área comum de trabalho conta para liberar seu cérebro para pensamentos diferenciados, com referências de coisas e lugares diferentes dos que você sempre usa.

Estar longe do trabalho, longe da equipe e da rotina, vagando pela sua cidade ou apenas cuidando de outras áreas da sua vida podem ser atitudes decisivas para o seu processo criativo e a diferença entre uma boa ideia e uma ideia realmente genial.

Então, vimos que o brainstorm pode não ser aquela maravilha para a criatividade, pois:

1. Existe um fator social inconsciente que gera medo de falar.

2. Este fator social também gera conformidade de ideias e menos originalidade.

3. Criar ideias em equipe diminui nosso foco e criatividade.

4. Ideias originais surgem, muitas vezes, em locais e horas longe do trabalho.

Agora, você pode estar se perguntando: “Certo, mas você mesmo disse que esse post não seria puro hate, então, como o brainstorm pode ser bom?”

Deixe-me me explicar novamente…

Simples: quando o brainstorm não for destinado para criação, mas sim como filtro e para construção em cima de ideias.

O brainstorm é muito positivo para validar as ideias e a partir disso, utilizar o poder combinado do time (e o momento de alinhamento de ideias) para construir em cima do que todos confirmaram ser o melhor caminho. Ou seja, convoque um brainstorm depois de dar tempo para que todos possam pensar no job e criar suas ideias, para chegarem à reunião com alguns caminhos viáveis (pensados no conforto produtivo da solidão).

Unidos e munidos de suas ideias, o time como um todo pode discutir as melhores para seguir e combinar, assim alinhando o que todos pensam e gerando insights nesse momento para construir em cima do caminho escolhido.

Ou seja…

Desta forma, o brainstorm não acontece para ser um momento de pura criação, mas na verdade atua como um filtro para as ideias pré-concebidas pelo time, que poderá sugerir melhorias e combinações a partir disso. É aí que os brainstorms realmente mostram potencial e se tornam produtivos e divertidos. De repente, aquele seu brainstorm de 4 horas consegue ser reduzido para apenas 1 hora.

Viu só? Não foi puro hate.

Enfim, o que você acha: brainstorms são realmente uma ferramenta produtiva para criar ou você concorda comigo? Como funcionam os brainstorms na sua empresa? Conte para a gente nos comentários! 😉